Dados do quarto semestre mostram PIB perdendo velocidade

Dados do quarto trimestre mostram PIB perdendo velocidade

Por Roberto Macedo*

Conforme se denota pelos meus artigos neste espaço, o acompanhamento do PIB é um dos meus assuntos preferidos, pois essa evolução indica como está a economia brasileira em seu desempenho ao longo do tempo. Recentemente foram conhecidos dois números que mostram uma desaceleração do PIB no início do quarto trimestre de 2023, afetando assim as perspectivas para o final deste ano e para o início do próximo.

O primeiro número é de uma prévia da variação do PIB como um todo, elaborada pelo Banco Central, com o nome de Índice de Atividade Econômica, representado pela sigla IBC-Br. Em outubro último, conforme divulgada no dia 14 de dezembro, a taxa de variação desse índice, relativa a setembro, foi de queda de 0,05%, ou seja, bem próxima de zero. Entre outras dimensões, o IBC-Br foi examinado também na forma de média móvel trimestral, ou seja, em outubro focou no trimestre compreendido pelos meses de agosto, setembro e outubro, relativamente aos três meses encerrados em setembro, e essa taxa foi também negativa, de 0,39%.

Pesou muito nesse resultado um segundo número, a variação mensal observada no setor de serviços em outubro, relativa a setembro, setor esse que é maior e responde por cerca de 70% do PIB. Nesse caso, a queda foi de 0,6%, um número bem alto para uma variação mensal. Isso significa que mesmo tendo havido crescimento em outros setores, como na indústria, ele não foi suficiente para compensar essa forte queda dos serviços na variação do PIB.

Como já apontei num artigo recente neste espaço, os últimos dados do PIB trimestral do IBGE, divulgados no dia 1º do mês de novembro, revelaram taxas trimestrais, relativas ao trimestre anterior, de 1,3%, 1%, e 0,4% para os três primeiros trimestres de 2022, respectivamente, mostrando assim taxas bem altas nos dois primeiros trimestres, mas em queda no terceiro. Os números de outubro, apontados acima, do PIB e do setor de serviços, indicam que o último trimestre do ano também não mostrará um bom resultado.

Com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2023, a política econômica do governo federal mudará de comando, e os analistas costumam analisar os resultados dela no período compreendido pelo mandato presidencial. Mas no início dele pesa muito a situação herdada do governo anterior. E a que Lula vai herdar, examinada na sua avaliação trimestral, é uma tendência de queda, que o novo governo procurará reverter.

Na avaliação anual, relativa a 2023, o presidente Jair Bolsonaro, ao deixar o governo, poderá se vangloriar por ter alcançado uma taxa de crescimento do PIB em 2022, cujas previsões a colocam perto de 3%, mas o que os dados acima demonstram é que, avaliada em sua tendência, ele estará deixando uma economia em desaceleração, mas que só foi identificada a partir de sua avaliação trimestral, conforme mostrada acima, o que confirma a relevância de também levar em conta essa avaliação trimestral, além da avaliação usual, em bases anuais.

Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.

Artigo publicado no site do Espaço Democrático em 19 de dezembro de 2022.