Efeitos no Brasil do cenário financeiro nos EUA

Por Roberto Macedo*

 Destaco os efeitos aqui sobre as taxas de juros e a taxa de câmbio e há relações entre essas duas taxas. Escrevo no dia posterior (13/4) àquele em que recentemente a taxa de câmbio chegou a R$5,12 por dólar.

Para não ir muito longe no passado, desde o início o início de novembro de 2023, quando chegou a R$5,00 ano, a taxa de câmbio ficou gravitando um pouco abaixo desse valor, mas em março deste ano voltou a R$5,00 por duas vezes e no dia 1º de abril ultrapassou esse valor e passou a R$5,12 no dia 12.

Os Estados Unidos são o país do dólar e têm um enorme mercado financeiro que atrai investidores locais e estrangeiros. E lá está se passando o seguinte: a economia e a inflação vem mostrando resistência à política monetária do seu banco central, conhecido como Fed, e ele indicou que assim não pretende voltar a baixar juros conforme o mercado financeiro esperava. Com isso, passou a atrair mais investidores brasileiros e estrangeiros que estavam aqui, pressionando a demanda local de dólares e elevando a sua cotação. O nosso banco central chegou a intervir recentemente no mercado de câmbio para contê-la. Há também tensões internacionais como a de uma eventual agressão do Irã e Israel, o que poderia levar a um envolvimento maior dos EUA no Oriente Médio, e gerar incertezas nos mercados e aumento da demanda de dólares.

Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo no mesmo dia 12/4 tratou do assunto e referiu-se ao movimento de investidores para os EUA como “fuga para qualidade”, no qual pesam fatores internos àquele país, como a ação do Fed citada, mas também o que se passa com os investidores externos. No Brasil também aumentou recentemente a desconfiança quanto à sustentação do arcabouço fiscal do governo, em face do risco de que ele aumente a dívida pública, além de questões envolvendo a Petrobrás e outras.

A Bolsa de Valores brasileira também vem decepcionando investidores e provocando saídas de recursos de estrangeiros e nacionais, o que também pressiona para cima a cotação do dólar.

Ou seja, há aqui o efeito do que se passa nos EUA quanto às perspectivas das taxas de juros locais, mas há também o papel de fatores como a citada e eventual ação do Irã contra Israel e questões internas, como as ameaças ao arcabouço fiscal.

Quando comecei a estudar economia no início dos anos 1960 o mercado financeiro internacional era pouco desenvolvido, mas com o avanço dele, muito facilitado pelo forte avanço dos meios de comunicação, as interrelações entre países, em particular dos EUA e seu dólar com o resto do mundo, se tornaram uma questão que tem efeitos internacionais.

Com isso a gestão da política monetária aqui se tornou mais complexa, pois é preciso que fique também fique atenta em particular ao que se passa nos EUA e no cenário internacional em geral.

Os jornais e a imprensa em geral passaram a publicar muitas matérias sobre o que lá se passa lá fora nessa área. O leitor interessado pode buscar esclarecimentos nelas, seja para se informar e/ou atuar como investidor.

* Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.

Artigo publicado no site da Fundação Espaço Democrático em 16 de abril de 2024.